A essencialidade cromática e espiritual presente nos achromos e nas esculturas pneumáticas de Piero Manzoni, para além de serem obras de arte de grandes significados históricos, são também ações sociais e políticas, demonstrando o interesse deste artista pela questão ambiental, pelo desejo de transformação social, re-direciondo o olhar do espectador para uma nova arte, comprometida com a verdade, como os fenômenos da vida cotidiana. Com sua obra, Manzoni deixa um legado para o artista de hoje se aproximem da fenomenologia como forma de estar no mundo, de compreender o mundo, de fazer parte deste mundo. Ao averiguar o significado dos materiais como o ar e a água, Manzoni aponta para a física e para a química como únicas possibilidades de compreensão do mundo. Os artistas atuais – através do testemunho inaugural de Manzoni – têm hoje o espaço ideal compreender as relações entre a consciência e natureza, seja ela orgânica ou psicológica ou social.
A obra de Maria Laet comunga da verdade manzoniana quando através de ações corporais – registradas em fotografias e filmes – a artista toma o corpo – de um modelo ou o seu próprio – como medida do mundo, numa estrutura do corportamento, no dizer de Merleau-Ponti. As foto-performances de Maria Laet registram as ações de gestos essenciais, entre o suave e o bruto, o mito e o rito, sempre (re) velada através da imaculada cor branca – das gazes, tecidos, balões, vidros, etc. Onde os rastros são deixados pelos corpos que atravessam rios, ruas e parques das cidades, reverberando o essencialismo da matéria em seu gesto mais agudo, onde o espírito e corpo unem-se num mesmo espaço de sensação. As obras de Maria Laet são herdeiras dos Achromos, do Fiato de artista, dos Corpos de Ar e mesmo da Merda d´ artista, pois estas “apenas são, e vivem. Nada a explicar”, como diria Manzoni.
Paulo Reis
Lisboa, fevereiro, 2007